Três policiais militares foram denunciados à Justiça pelo homicídio do pedreiro José Pio Bahia Júnior, de 45 anos, morto com um tiro nas costas enquanto trabalhava na construção de uma laje na Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio. O crime aconteceu em 3 de setembro do ano passado. A investigação da Delegacia de Homicídios (DH) e do Ministério Público do Rio concluiu que os sargentos Antônio Augusto Valente Gradim Júnior e Guilherme de Asevedo Souza e a cabo Letícia Cristina Muritiba de Sousa Queiroz — lotados à época no 14º BPM (Bangu) — foram os responsáveis pelo disparo que matou o pedreiro.
Os três policiais foram denunciados pelo homicídio de José Pio e pelas tentativas de homicídio de outros dois auxiliares do pedreiro que também trabalhavam no local e conseguiram fugir: um deles deitou na laje e o outro desceu para o andar de baixo correndo. De acordo com a denúncia, assinada por promotores do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), “os crimes foram cometidos por motivo fútil, em razão dos denunciados terem suspeitado que as vítimas seriam integrantes do tráfico de drogas da localidade pelo simples fato de se encontrarem sobre a laje do imóvel”.
Laudos de necropsia e de reprodução simulada produzidos pela Polícia Civil mostram que José Pio foi atingido por um tiro de fuzil pelas costas, num momento em que estava agachado.
Testemunhas do crime alegaram que não havia tiroteio no momento do crime e que só os policiais atiraram. Moradores da Vila Kennedy também afirmaram que os PMs omitiram socorro à vítima: mesmo informados de que havia uma pessoa baleada na esquina das ruas Gana e Etiópia, os agentes não foram ao local. Mais de um morador disse à polícia que os agentes recolheram os cartuchos após dispararem.
Já os três agentes admitiram, em depoimento, ter disparado na ocasião. No entanto, a equipe negou sequer ter visto o pedreiro trabalhando em cima da laje. Na versão apresentada pelos policiais, eles teriam sido recebidos a tiros por pelo menos cinco criminosos durante uma operação na favela.
O depoimento de um dos agentes, no entanto, foi contestado pelo laudo de comparação balística feito entre as armas usadas pelos PMs no dia do crime e estojos apreendidos no local. O sargento Asevedo afirmou que não deu disparos com a pistola .40 que portava. A perícia, contudo, concluiu que três cartuchos encontrados na favela foram deflagrados pela arma do agente.
O MP pediu à Justiça a suspensão da função pública dos três PMs e a proibição de manter contato com as vítimas sobreviventes ou testemunhas. A denúncia já foi remetida à 3ª Vara Criminal da capital.
Fotos tiradas por amigos, logo após José Pio ser atingido, mostram o homem com um prego na mão esquerda e um martelo na direita. José Pio estava trabalhando há dois dias na obra. O pedreiro já tinha estruturado as paredes do segundo andar e estava finalizando a montagem da laje. Ele morava há 20 anos na Vila Kennedy, para onde se mudou após chegar da cidade de Cachoeira Alegre, em Minas Gerais. José Pio veio para o Rio em busca de trabalho.