Segundo levantamento publicado pelo Brazilian Journal of Health Review, 80,3% dos estudantes vestibulandos sofrem algum grau de estresse. Não é para menos: em um artigo veiculado na Revista Brasileira de Orientação Profissional no segundo semestre de 2017, pesquisadores do comportamento humano consideram que o vestibular é um ritual de passagem em que o jovem precisa encarar a primeira disputa para fazer parte do voraz mundo profissional e, assim, iniciar-se na fase adulta. O combo de sentimentos e situações que envolvem a mudança de etapa inclui expectativas internas e externas que parecem ser validadas não pelas experiências e história de vida de cada um dos candidatos, mas pelas provas que dão acesso a uma vaga na universidade.
A primeira no calendário fluminense de vestibulares públicos, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), uma das principais instituições de ensino superior do país, segue o sistema de inclusão de livros em seu processo seletivo desde 2017. Para o vestibular 2025 – o primeiro exame de qualificação será no próximo dia 09 de junho – foram escolhidas as obras “As mentiras que os homens contam”, de Luís Fernando Veríssimo, já para a primeira etapa; “Quincas Borba”, de Machado de Assis, para o segundo exame de qualificação; “Caim”, do português José Saramago, para a fase discursiva de Língua Portuguesa e Literaturas; e “O conto de aia”, da escritora canadense Margaret Atwood, para a Redação final. Dar conta de estudar o conteúdo de todas as outras disciplinas e ter o aditivo da literatura obrigatória não é uma tarefa simples, mas olhar os livros indicados como uma oportunidade de relaxar (não de pirar!) e de desenvolver conhecimentos interdisciplinares podem ser caminhos de equilíbrio para a saúde mental.
O professor de português-literatura do colégio pH, Raphael Katyara, avalia positivamente a escolha e a sequência dos livros para o vestibular da Uerj. O pontapé com as crônicas bem-humoradas de Luís Fernando Veríssimo encoraja os jovens a retomarem – ou mesmo iniciarem – a conexão com a literatura:
“Os alunos leem cada vez mais as telas, não os livros. Acredito firmemente em se tratar de uma tentativa da universidade de trazer os estudantes para esse universo e ninguém melhor do que o Veríssimo, do que o gênero textual das crônicas, que tem a capacidade de observar o mundo em que a gente vive sob um outro aspecto. O Veríssimo tem um tom cômico, brinca com o anedótico e se aproxima do leitor com curiosidades da percepção humana. Acho que o ponto de ligação não está na obrigação da literatura, eu acho que é a redescoberta do prazer de ler, esse é o ponto central”.
Os benefícios da leitura para o bem-estar
Uma pesquisa feita pela Universidade de Sussex, na Inglaterra, revela que ler é a atividade mais positiva para lidar com a tensão e os transtornos mentais, porque mesmo quando a literatura trata de temas da vida comum, ela não transfere o “peso da solução de problemas” ao leitor. Ao retirar o foco das obrigações cotidianas para investir em uma ação que não exige grandes esforços físicos – e que trabalha a concentração – os voluntários do ensaio tiveram redução na frequência cardíaca e relaxamento muscular, conforme observado pelo neuropsicólogo responsável pelo estudo, David Lewis. Em números, seis minutos diários de leitura foram suficientes para reduzir 68% dos níveis de estresse e de ansiedade nos participantes, taxa superior a outras práticas também positivas como ouvir música (61%), beber chá (54%), passear (42%) e jogar videogame (21).
O ditado não erra: mente sã em um corpo são
Apesar de o contexto da citação mudar conforme interpretações culturais e temporais, pode-se dizer que, de acordo com as pautas do século XXI, o ditado traduz-se na importância da integração entre cuidados mentais e físicos. Vale lembrar que o vestibular também é um teste de resistência, já que as provas têm longa duração e geralmente são alocadas em instalações que não são familiares aos estudantes, como em um outro colégio ou uma universidade. Ergonomia e temperatura diferentes das habituais também influenciam na concentração para os exames, por isso é importante ocupar-se de exercícios para manter a boa postura e para aliviar tensões musculares, por exemplo, além de portar itens confortáveis nos dias de provas.
Para descontrair os alunos durante a maratona de estudos para o vestibular, o colégio pH oferece as “Oficinas de Descompressão”, atividades semanais de meditação, yoga, aromaterapia, técnicas de respiração, massagem, e alongamento acompanhadas de conversas motivacionais para estimular a autoconfiança e o autoconhecimento.
“A Descompressão é um momento estratégico de pausa para aprender ferramentas práticas para lidar com a pressão dos estudos e da vida. É um tempinho na semana para desopilar junto com os amigos, porém direcionado para a saúde. Fazemos uso de um conjunto de práticas recomendadas pela OMS que apoiam o bem-estar integral, com relaxamento dirigido”, explica Renata Bucair, coordenadora e idealizadora do projeto.
Luiz Bragança, aluno do 3º ano do ensino médio da instituição, confirma que sente na pele – e na mente – os benefícios das oficinas:
“Esses momentos me ajudam relaxando a tensão do dia a dia, eu saio mais esperançoso. Para o vestibular, ajuda mostrando técnicas de respiração para acalmar minha ansiedade”, conta o candidato a uma vaga no ensino superior.
Manter a calma para superar os desafios que compõem a vida não tem fórmula, afinal atividades de lazer equivalem ao gosto pessoal. Iniciativas positivas de instituições de ensino, clubes de leitura, psicoterapia, grupos de apoio para vestibulandos, contato com a natureza, esportes, maratona de séries… O que é válido é que cada um administre o intervalo entre diversão, estudos e descanso de acordo com as próprias necessidades.
Créditos das imagens: 1- Freepik; 2 e 3- Divulgação Colégio pH.