O Museum of Contemporary Art of the Americas (MOCAA), localizado em 12063 SW 131st Ave, Miami, FL, Estados Unidos, apresenta aos visitantes a partir do próximo dia 10 de maio, a mostra “O Sangue no Alguidá”, exposição colaborativa entre o artista brasileiro Gerson Fogaça e o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez. Após uma censura polêmica no Brasil, em 2019, que resultou em uma montagem urgente para ser apresentado, no Museu Nacional da República em Brasília, os visitantes do museu americano poderão conferir o projeto original, incluindo todas as obras dos artistas.
Com curadoria assinada por Dayalis González Perdomo e produção de Malu da Cunha, a exposição mergulha no realismo sujo latino-americano ao retratar os paralelos sombrios entre as narrativas de Gutiérrez e as pinturas de Fogaça. A coleção apresentada conta com 28 obras que combinam pintura, colagem e fotografia, evocando temas como a degradação social e a sensualidade através de um submundo que ressoa com a literatura de Gutiérrez.
Segundo a curadora da mostra, a oportunidade destaca diversos aspectos relevantes, além do próprio conceito curatorial, que se baseia na relação simbólica entre a obra literária de Pedro Juan Gutiérrez e a visualidade de Gerson Fogaça. “Um momento único para mergulhar nos processos criativos do escritor cubano, numa área de seu trabalho menos reconhecida e divulgada, que são as experimentações com as artes visuais. Também é importante trazer para o contexto de Miami um projeto que enfatiza os aspectos conceituais e sociológicos da obra de arte, especialmente na arte brasileira, que é raramente mostrada no sul da Flórida e que muitas vezes é associada a uma arte mais decorativa, folclórica e complacente com os cânones estéticos mais tradicionais”, pontua Dayalis.
“O encontro com o Pedro Juan foi um presente, pois sempre me identifiquei com sua obra, pois é muito contundente. Somente nós, os latinos, vivemos os mesmos problemas e angústias, as mesmas dores. E essa pesquisa foi um mergulho na minha própria origem, tendo em vista que fui criado nesse ambiente muito erotizando e às vezes profundamente ligado ao submundo e à miséria”, comemora o artista goiano Gerson Fogaça.
A exposição foi abruptamente cancelada pelos Museu dos Correios em Brasília dois dias antes de sua estreia na capital devido a seu conteúdo considerado erótico, mas agora encontra voz e visão no MOCAA, sem as restrições impostas pela gestão brasileira. “Essa exposição em solo americano tem uma representatividade muito grande, pois esse projeto foi censurado no Brasil em um período bastante obscuro para a arte brasileira. Recebi com muito entusiasmo esse convite para mostrar esse trabalho neste importante espaço cultural americano”, finaliza Fogaça.
Gerson Fogaça, cuja obra já contemplou o submundo das cidades brasileiras, encontra eco no trabalho de Gutiérrez, oferecendo uma reflexão sobre as verdades multifacetadas e muitas vezes perturbadoras da experiência urbana. Juntos, esses artistas desdobram uma realidade social fraturada e decadente, desafiando a censura e celebrando a liberdade de expressão.
A exposição “O Sangue no Alguidá” estará aberta para visitação do público no MOCAA, a partir de 10 de maio de 2024. Para informações, entre em contato pelo telefone +1 786 794 3699 ou visite www.mocaamericas.org.