O Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE-UFRJ) recebeu nesta terça-feira (23) a economista italiana Mariana Mazzucato para uma palestra sobre crescimento inclusivo e sustentável liderado pela inovação. Acadêmica multipremiada, Mazzucato é uma das economistas mais influentes da atualidade, conhecida por suas ideias disruptivas sobre inovação e crescimento econômico sustentável.
“Nosso principal objetivo nesta vinda ao Brasil é ajudar o governo a mudar não apenas a forma de pensar, mas de trabalhar investimentos, subvenções, empresas estatais e, especialmente, a coordenação interministerial que qualquer Estado precisa se quer caminhar em uma direção. Porque o crescimento não somente varia de acordo com uma taxa, mas se inclina em um sentido, e nós nos dedicamos para que esse sentido seja o de um novo pensamento econômico, com missões estabelecidas e voltadas para a inclusão e a sustentabilidade”, explicou a economista no início da sessão.
Para enfatizar a urgência da pauta ambiental, a italiana destacou o dado de que restam 8 anos para que o colapso climático se torne irreversível. Durante toda a palestra, a intelectual defendeu a criação de modelos econômicos em que governos sejam capazes de financiar os rumos do país, em vez de se limitar à resolução de problemas, e elogiou o governo Lula nesse sentido.
“Diferentemente dos outros países, aqui no Brasil vocês estabeleceram metas cruciais. Geralmente, a prática é seguir com a antiga forma de trabalhar as finanças e a economia, enquanto as metas (ambientais) são colocadas em um lugar distante, como um ‘Departamento do Meio Ambiente’. Portanto, o Plano de Transformação Ecológica (PTE) partir do Ministério da Fazenda já é um passo radical”, avaliou.
A economista propõe um Estado-empreendedor: “Em outras palavras, o Estado não como um credor de último recurso, mas um investidor de primeiro recurso e agente do mercado. Não um fixador de mercado que, em seguida, traduz isso em políticas públicas orientadas para a missão, mas também esta ideia subjacente à capacidade de dirigir a economia de uma forma orientada para objetivos”, explicou.
A Secretária-Executiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, Verena Hitner Barros, esteve presente na sessão e fez comentários e perguntas ao fim da apresentação de Mazzucato.
Mariana Mazzucato é Professora de Economia da Inovação e Valor Público na University College London (UCL), onde fundou e dirige o Institute for Innovation and Public Purpose (IIPP), do qual outros integrantes também vieram ao Brasil. Com uma carreira acadêmica distinta, a economista ocupou anteriormente a cadeira RM Phillips no Science Policy Research Unit na Universidade de Sussex. Seu trabalho tem sido amplamente reconhecido, recebendo prêmios internacionais como o Grande Ufficiale Ordine al Merito della Repubblica Italiana em 2021, o Prêmio John von Neumann em 2020, o Prêmio Madame de Staël de 2019 da All European Academies e o Prêmio Leontief de 2018.
Além da carreira acadêmica, Mazzucato atua como consultora de políticas para governos e organizações ao redor do mundo, promovendo crescimento inclusivo e sustentável por meio da inovação. Entre suas contribuições notáveis estão o papel de Presidente do Conselho de Economia da Saúde para Todos da Organização Mundial da Saúde e co-presidente da Comissão Global de Economia da Água. Ela também foi membro do Conselho Consultivo Econômico do Presidente da África do Sul e autora de relatórios influentes para a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas.
Os livros de Mazzucato, como “The Entrepreneurial State” (2013), “The Value of Everything” (2018), “Mission Economy” (2021) e “The Big Con” (2023), exploram temas de inovação, valor econômico e o papel crucial do setor público na economia moderna. Seu trabalho desafia a divisão tradicional entre setores público e privado, propondo uma abordagem colaborativa para enfrentar os desafios globais.
O evento foi organizado pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ e pelo INCT de Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento. A palestra foi transmitida ao vivo pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no YouTube.