O pipoqueiro Ademir Alcântara, de 60 anos, definia a própria vida como estável e tranquila. Trabalhava na Praça Mauá, vendendo pipocas para os turistas brasileiros e estrangeiros que chegavam nos cruzeiros que lotavam o Rio de Janeiro no verão.
Veio a Covid, a clientela sumiu e as mercadorias subiram de preço. Quebrado financeiramente, ficou sem ter onde morar e se viu obrigado a buscar um abrigo da Prefeitura do Rio, engrossando uma triste estatística: o número de acolhimentos de idosos aumentou 16% na rede municipal com a pandemia. Uma tendência de alta que se mantém em 2021.
No ano passado, foram realizados 4.794 acolhimentos de idosos nas 13 unidades da Prefeitura do Rio que fazem este tipo de atendimento. Em 2019 o número foi de 4.126. Foram 668 acolhimentos a mais.
Na unidade onde Ademir está, só em janeiro 109 idosos foram encaminhados para receber ajuda. Em março do ano passado, quando a pandemia chegou ao Brasil, foram 79 atendimentos de maiores de 60 anos.
Aumento da pobreza
A secretária de Assistência Social do Rio de Janeiro, Laura Carneiro, destaca que é visível o aumento da pobreza durante a pandemia e que atender o aumento da demanda é um desafio.
O Censo de População em Situação de Rua 2020, realizado entre 26 a 29 de outubro do ano passado, pesquisou 7.272 pessoas. Destas, 752 pessoas responderam ter ido para as ruas depois do início da pandemia da Covid-19 – mais de 10%.
“Como é que a gente consegue, com a estrutura que a gente tem na secretaria, atender uma gama de pessoas que sofre em função do aumento da pobreza absoluta. E um destes problemas é, claro, a população em situação de rua. E aí leia-se não apenas a população em situação de rua, mas a extremamente vulnerável que a gente também tem a obrigação de atender na secretaria”, diz a secretária.