Dois depoimentos explosivos à Polícia Civil revelaram detalhes de uma guerra que vem apavorando pelo menos cinco bairros do Rio: Marechal Hermes, Catumbi, Tijuca, Andaraí e Vila Isabel. Além do tráfico e da milícia, o carioca agora vê um acirramento de uma disputa entre bicheiros por territórios das zonas Norte e central da cidade. Foi Luiz Cabral Waddington, de 42 anos, que destrinchou o que vem acontecendo nas ruas. Decidiu fazê-lo após seu filho, de 22, ser baleado quatro vezes, na última sexta-feira, perto do Sambódromo.
Segundo Luiz, os autores do crime pensavam estar atirando nele, e não no rapaz, que dirigia um carro usado pelo pai e sobreviveu por milagre. Bicheiro confesso, ele contou, sem meias palavras, que trabalha há 20 anos para a “família Garcia” — de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em setembro de 2004 —, cujos negócios ilegais seriam hoje controlados por Bernardo Pimentel Bello Barboza. Luiz afirmou ser “o gerente” de mais de 40 pontos de jogo, “do Engenho Novo ao Leblon”.
Ele seria mais uma das vítimas da guerra que já deixou dois mortos e cinco feridos só este mês. Na noite de anteontem, um cabo da PM foi executado em Marechal Hermes. De acordo com Luiz, por trás dos ataques, estão herdeiros dos antigos chefões da contravenção.
Horas depois do atentado sofrido pelo filho, Luiz disse na 6ª DP (Cidade Nova) que vem sendo ameaçado de morte por Adilson Coutinho Oliveira Filho, o Adilsinho, que herdou do pai a contravenção em parte de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e seria ligado ao mercado clandestino de cigarros. Luiz afirmou ainda que Adilsinho recebe apoio de Rogério Andrade, que assumiu o espólio da família de Castor de Andrade, e de Vinicius Drummond, um dos cinco filhos do “capo” da contravenção Luiz Pacheco Drummond, o Luizinho, que morreu em 2020.
Segundo Luiz, seus inimigos querem assumir a área da família Garcia. Nesta quarta-feira, ele foi convocado a prestar um novo depoimento, dessa vez na Delegacia de Homicídios da Capital sobre o rastro de violência deixado pela guerra do bicho. Luiz falou por seis horas. Ao deixar a unidade policial, na Barra da Tijuca, o clima ficou tenso.