“Isso veio em uma carta através dos advogados do Flávio. Cheguei no presídio dias depois dele. Ficamos na mesma cela. Minha mãe mandava cartas com frequência para mim. Em uma delas, ela pediu para eu assumir a autoria do crime. Do contrário, ela e o Flávio poderiam ser prejudicados. Ela pediu para eu fazer isso, falando que não iria me abandonar e me daria toda a assistência. Inclusive a carta tinha a assinatura dela”, disse Lucas.
Nessa ocasião, ele se refere a Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis e, segundo a polícia, responsável direto pelo assassinato do pastor.
A afirmação foi feita na manhã de ontem, durante depoimento prestado ao Conselho de Ética e Decoro da Câmara dos Deputados, em Brasília. Lucas prestou depoimento remoto, uma vez que está detido no Presídio Tiago Teles, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio.
Segundo Lucas, a carta foi rasgada dentro do presídio pelo próprio Flávio.
Segundo Lucas, outra filha afetiva de Flordelis, Marzy Teixeira da Silva, foi a responsável pelo planejamento do crime. Isso, também afirmou Lucas, foi feito a mando da própria Flordelis.
“Quem entrou em contato comigo pela primeira vez foi a Marzy, em janeiro de 2019. Ela me ofereceu um dinheiro. Falou que o Anderson estava atrapalhando a vida dela, atrapalhando a vida da minha mãe e que ninguém na casa estava suportando mais ele e perguntou se eu não dava um fim nele. Na época, eu estava no tráfico de drogas. Ela me ofereceu o valor de R$ 10 mil e alguns relógios para eu dar um fim nele. E me mandou uns prints (cópias) de conversas dela com a minha mãe”, disse Lucas.
Segundo Lucas, em um dos prints, Flordelis pede a Marzy que o convença a cometer o crime.
“Em um dos prints que a Marzy e mandou, ela (Flordelis) pede para que a Marzy me convença a fazer isso. Para eu simular um assalto e matar ele. Que ela não estava mais suportando ele, que ele estava atrapalhando ela”, disse Lucas, afirmando que a deputada nunca pediu diretamente a ele que cometesse o crime.
Questionado pelo relator Alexandre Leite (DEM-SP), Lucas afirmou que Marzy não tinha nenhuma fonte de renda que assegurasse o pagamento do valor combinado.
No depoimento, Lucas confirmou ter intermediado a compra da arma utilizada no assassinato. Segundo ele, Flávio pagou R$ 8,5 mil pela compra da arma.
“Ele me disse que algumas pessoas estavam ameaçando ele e perguntou se eu conhecia alguém que poderia vender uma arma. Falei que sim, que conhecia alguém. Mas ele também não tinha condições financeiras para comprar a arma, já que trabalhava como motorista de aplicativo aqui no Rio”.
Lucas afirmou que a deputada nunca pediu diretamente que ele cometesse o crime. Ainda segundo ele, o dinheiro para a compra da arma veio de Flordelis.
“Se ela tivesse interferido para que o crime não tivesse acontecido, com certeza o Anderson estaria vivo até hoje”, comentou Lucas.
Segundo depoimentoApós o depoimento de Lucas, os deputados ouviram Andréa Santos Maia. Esposa do ex-PM Marcos Siqueira Costa, ela é acusada de fraudar uma carta na qual Lucas confessaria o crime.
“Conheci o Marcos Siqueira no presídio, através do Flávio. A Andréa o visitava duas vezes por semana”, disse Lucas.
Questionada pelo deputado Alexandre Leite, Andrea negou que tenha entrado no presídio com uma carta para Lucas.
“Ela (Flordelis) nunca me pediu para levar carta alguma. Eu passo por um scanner corporal de alta precisão e não teria como entrar no presídio com uma carta volumosa sem ser detectada, pelo scanner ou pelas guardas”, disse Andrea.
Presa desde o dia 24 de agosto de 2020, acusada de entrar e sair com cartas no presídio, que seriam para a comunicação da deputada Flordelis e seus filhos Lucas e Flávio, Andrea levantou suspeita sobre as investigações relacionadas a essa comunicação entre eles.
“Eu não sei como essa carta entrou, mas havia ali um cenário, com alguns personagens que foi dado oitiva na DH, e me parece que não foram investigados. Até mesmo as câmeras poderiam informar isso. Poderiam investigar melhor. Essas câmeras nunca apareceram”, comentou.
SUSPENSÃO NEGADA
A defesa de Flordelis protocolou na Comissão de Ética uma representação por exceção de suspeição por quebra de parcialidade do relator da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar.
“Nós estamos questionando a imparcialidade do relator que está conduzindo o trabalho dessa comissão. A defesa pede que a sessão seja suspensa até que o pedido de suspeição seja analisado”, a advogada de defesa de Flordelis, Janira Rocha.
O presidente da comissão, Paulo Azi (DEM-BA), recusou o pedido.
“Se porventura esta comissão considerar o trabalho do relator suspeito, é óbvio que todo o encaminhamento que for dado de agora em diante será anulado, mas estamos aqui para entrevistar pessoas que estão presas e há uma série de trâmites burocráticos para viabilizar as oitivas. Não vejo, neste momento, justificativa para suspender a presente reunião”.