Cabelos orgulhosamente crespos, roupas personalizadas que exalam autenticidade e muito amor preto envolvido. Esses são alguns dos elementos que compõem o espetáculo multilinguagem “Amor de Baile”, que mergulha na efervescência cultural do movimento Black Rio, destacando a afetividade e o empoderamento racial presentes nos bailes da década de 70. Em cartaz no Teatro Municipal Ziembinski na quarta (4), quinta (5) e na quarta seguinte (11), sempre às 20h. Ingressos disponíveis no site RIO Cultura, por R$40 (inteira), R$20 (meia) e R$15 (lista amiga).
A peça promove reflexões sobre o amor entre pessoas racializadas como uma poderosa ferramenta de resistência ao racismo, celebrando a estética e a autoestima da população negra brasileira. Idealizado por Juliane Cruz e Junior Melo, com texto de Tati Villela, direção de Rei Black, produção de Wellington de Oliveira e supervisão geral de Dom Filó.
Recentemente, o espetáculo recebeu uma Moção de Aplauso da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, uma demonstração clara do impacto cultural e social que alcançou, comprovando que a celebração do movimento Black Rio e suas reflexões ainda ressoam de forma poderosa nos dias de hoje.
A partir das múltiplas linguagens poéticas que permeiam o Baile Black da década de 70, em paralelo à manifestações artísticas da periferia contemporânea, a peça valoriza a afetividade dos encontros gerados por esse movimento. Tati Villela, dramaturga do espetáculo, destaca: “Dando espaço para as sensorialidades através do balanço dos corpos e da música, os corpos negros dizem por si só. Como diz Leda Maria Martins em ‘Afrografia da memória’, nosso corpo fala”, reflete. Ao mesmo tempo, “Amor de Baile” também questiona a criminalização da cultura favelada e suburbana, promovida pelos efeitos do racismo estrutural, institucional e midiático.
Em meio à ditadura militar, os Bailes de Soul Music fomentaram a produção artística suburbana e a exaltação da estética e autoestima da população negra brasileira. “Beije sua preta em praça pública” dizia a capa do Jornal – Movimento Negro Unificado. Partindo dessa provocação, o espetáculo “Amor de Baile” aborda quais ferramentas de luta contra o racismo a juventude black dos anos 70 utilizou para se aquilombar e combater o racismo, como destaca Juliane Cruz, atriz, dramaturgista e idealizadora do projeto. “Para além do amor romântico, amor como um movimento político, como fenômeno social, amor pela sua negritude e pelo seus iguais”, ressalta.
Sob a perspectiva estética, política e poética da frase “Black is beautiful!”, movimento cultural iniciado nos Estados Unidos, é desenvolvida a narrativa da peça, como ressalta Rei Black, diretor artístico do projeto. “Nos meados dos anos 70, com a influência deste movimento, os negros passaram a assumir sua própria identidade com orgulho e atitude. Mesmo nos anos de maior repressão da ditadura, foi possível reconectar nosso povo preto, unindo milhares de pessoas com o propósito de dançar, se reconhecer e se amar”, destaca.
Com uma linguagem contemporânea, lúdica e afro futurista, “Amor de Baile” é um espetáculo multilinguagem. “Há teatro, dança, canto, poesia, audiovisual e muito amor entre pessoas pretas, resgatando memórias e retratos vividos por pessoas que atravessaram e viveram essa revolução preta no subúrbio carioca”, ressalta o diretor artístico.
A abordagem de luta contra o racismo no Movimento Black Rio aconteceu através da cultura, da festa e do entretenimento, influenciando de forma significativa em como a geração atual se fortalece em relação à autoestima, identidade e comportamento, como evidencia Junior Melo, ator, produtor e idealizador do projeto. “Como público alvo, visamos alcançar não só a geração que lotava as pistas daquela época, mas também uma juventude que bebe do legado desse grande movimento cultural, sem nem mesmo conhecê-lo”, destaca.
50 anos depois do surgimento do Movimento Black Rio, é possível ver sua importância sendo reconhecida em vários níveis, seja em exposições ou no cinema. Dom Filó, produtor cultural que participou ativamente do movimento, assume a supervisão geral do projeto e comemora este feito. “Agora chega a vez da dramaturgia, com a peça teatral ‘Amor de Baile’. Eu, como sujeito da ação, sendo um dos que viveram todo o processo, me sinto honrado em contribuir com esse projeto. E mais ainda, ter o privilégio de fazer parte de uma narrativa pensada e produzida por negros descendentes da herança africana que construiu este país. Gratidão pela oportunidade”, conclui.
SINOPSE
Um grupo de jovens frutos da imaginação negra de 1970 até dias futuros, se reúnem exacerbando que para viver uma existência negra a desesperança nunca habita. O movimento Black Rio em meio à seus pentes garfos, sapatos plataforma e muita intelectualidade é o coração dessa história bombeada por sonhos, desejos, amor e resistência.