Diana Pires
Uma unidade de referência de atendimento na Baixada Fluminense vem enfrentando problemas com indicações políticas. Segundo funcionários, foi isso o que aconteceu com o Hospital de Saracuruna desde que passou para administração da Prefeitura de Duque de Caxias.
“Por intermédio de amigos, de conhecidos, me falaram que tava entrando por indicação política. O que que eu fiz? Fui atrás de um vereador de Duque de Caxias chamado Chiquinho Grandão e ele pediu para eu levar documentação em troca de alguns favores. Favores esses como votar nele nas eleições, ou em que ele estivesse apoiando. Tudo em troca de favores políticos. E eu consegui a vaga assim”, diz um funcionário sem se identificar.
Sebastião Ferreira da Silva, conhecido como Chiquinho Grandão, é vereador e pré-candidato ao mesmo cargo em Duque de Caxias pelo Partido Progressista (PP). Aliado do prefeito Washington Reis, Chiquinho chegou a ser preso em 2010, condenado por participar de uma milícia no município.
No entanto, segundo funcionários, ele é um dos que decidem quem vai ser contratado no hospital.
“Além do Chiquinho Grandão, existem todos os vereadores que são aliados ao Washington Reis. Tem uma listagem. Toda semana 50 técnicos são demitidos e outros são contratados dessa listagem. Todos os vereadores aliados têm uma lista que entregam no hospital para a admissão”, completa o funcionário.
Questionado sobre como conseguir uma vaga no Hospital de Saracuruna, Thiago Souza, ligado a vereador Claudio Thomaz respondeu: “No começo, realmente eles estavam botando muita gente por indicação. Inclusive seu Cláudio ajudou muita gente. Só que agora, provavelmente deve ter mudado o quadro de funcionários. Mas você viu aí, ele falou que vai tentar te ajudar sim. Quando inaugurar a UBS, ele vai tentar colocar. O que você tem que fazer é sempre estar mandando mensagem pra lembrar, entendeu? Só do simples fato de ele falar que vai tentar, você vê que ele é diferente. Realmente, eu sou amigo dele e assim, o que a gente puder fazer pra ajudar, a gente está ajudando. No caso, eu vejo ele lá, ajudando”.
Uma outra funcionária afirma que conseguiu trabalho no hospital com a ajuda de outra pessoa: a enfermeira e pré-candidata à Câmara de Caxias pelo Patriota, Eloísa da Costa, também aliada do prefeito da cidade.
“Como sou parte desse hospital desde a fundação, estou muito feliz de trazer a Prefeitura de Duque de Caxias para administrar”, disse Eloísa em um vídeo feito na porta do hospital.
Uma conversa entre funcionários do hospital mostra o grau da interferência de Eloísa. “Então, eu entrei aí por indicação política, foi a Eloísa. Foi através dela que eu consegui meu primeiro emprego. E ela me deu a oportunidade de trabalhar aí, mas eu não fiz prova e nem entrevista, não. Entrei direto. Não cheguei a fazer nada, não. Só mandou eu levar documentação e começar”.
Do lado de fora, o hospital foi reformado e pintado. Mas segundo funcionários, tudo é apenas fachada. Quem trabalha na unidade diz que muitos indicados políticos não têm sequer conhecimento básico necessário para atender aos pacientes. “As pessoas não sabem diferenciar uma agulha de insulina para uma agulha de Dipirona, né? As pessoas estão entrando sem critério, sem fazer prova. Algumas pessoas que estão saindo, mas têm contato político, estão voltando. Algumas pessoas que ficam, que têm experiência, acabam tendo que se comprometer na responsabilidade de trabalhar com uma pessoa que não tem experiência. E se a pessoa fizer alguma coisa errada, dá errado para todo mundo. O problema é para todo mundo”.