Moradores e visitantes de Maricá têm contribuído com a ampliação da base de dados sobre a fauna e flora local. Nos últimos dois anos, o aplicativo iNaturalist — rede social que reúne naturalistas, cientistas, biólogos e população em geral, com o objetivo de registrar e mapear a biodiversidade em todo o globo — recebeu uma quantidade expressiva de informações sobre espécies da região. Em 2022, foram registradas 96 observações identificadas pelo Projeto UÇÁ, desenvolvido pela ONG Guardiões do Mar, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Esse número cresceu exponencialmente, chegando a 1400 observações em 2024. O sucesso no aumento dos registros pode ser atribuído às formações em Ciência Cidadã, realizadas pelo Projeto no município, que têm incentivado a participação ativa da comunidade na documentação da biodiversidade local.
Por meio de formações em Ciência Cidadã, os interessados são incentivados a contribuir com pesquisas, mesmo não sendo um cientista ou pesquisador. Iniciativas nesse âmbito potencializam a atuação e resultados mediante a participação voluntária do público em etapas como a coleta de dados, análise de resultados e a própria escrita de relatórios e artigos científicos.
Ao longo de dois anos, o Projeto UÇÁ realizou 5 formações em Ciência Cidadã, em Maricá, com a ajuda de parceiros. A formação, que possibilita aos inscritos conhecerem mais sobre uma Unidade de Conservação Costeira, é dividida entre aulas práticas e teóricas.
Dentre as ferramentas utilizadas, usa-se o iNaturalist como um exemplo prático. Para nortear boas experiências, são passadas orientações sobre as formas de registros no aplicativo, configuração do perfil, comportamento ético durante as observações, importância da qualidade das capturas e marcação exata do local, data e hora. Orienta-se também quanto a realização do upload, que pode ser feito em tempo real ou posteriormente, se estiverem offline. Em campo, é feita uma demonstração da coleta de dados e envio.
Os biólogos do Projeto UÇÁ comemoram o aumento de registros. “Por meio do aplicativo compartilha-se fotos, áudios, vídeos e observações, fazendo com que seja possível a identificação e mapeamento das espécies, o que é fundamental para o monitoramento de populações, identificação de padrões de comportamento, migração e distribuição. Esses dados contribuem para o avanço do conhecimento científico e, sobretudo, fornecem embasamento às políticas de conservação, promovendo o envolvimento público na ciência e proteção da biodiversidade”, explica a bióloga e educadora ambiental do Projeto, Rafaela de Sá Coelho.
Uma das espécies registradas é a perereca-comedora-de-fruta (Xenohyla truncata), endêmica de restingas do sudeste brasileiro, considerado o único anfíbio comedor de frutas. Essa espécie é classificada como ‘Vulnerável’ pelo Ministério do Meio Ambiente e ‘Quase ameaçada’ pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). “Estudos recentes vem apontando que a perereca-comedora-de-fruta é possivelmente o único anfíbio do mundo capaz de realizar polinização e é apenas encontrada na Mata Atlântica brasileira”, destaca o biólogo Marlon Modesto.
“Esperamos, por meio das formações em Ciência Cidadã, sensibilizar e despertar o interesse do público em geral para a colaboração com a ciência, por meio da participação voluntária em projetos. Desejamos também contribuir para a valorização de pesquisas científicas e para o exercício de um olhar mais atento ao que podemos encontrar na natureza”, conta a coordenadora de Educação Ambiental do Projeto UÇÁ, Larissa Paiva.
Todos os interessados estão convidados a colaborar com o perfil do projeto UÇÁ no aplicativo e ajudar a aumentar ainda mais a quantidade de registros na região. Não é necessário ter participado da formação em Ciência Cidadã para contribuir. Basta baixar o aplicativo iNaturalist, se cadastrar e enviar os dados: https://www.inaturalist.org/projects/ciencia-cidada-em-marica
Atuação da ONG Guardiões do Mar
Em 26 anos de existência, a ONG Guardiões do Mar já participou da criação de várias cooperativas, nas áreas de reciclagem, pesca responsável e reaproveitamento de resíduos sólidos pós-consumo. Criou e coordenou, em parceria com catadores de material reciclável, duas redes de comercialização que envolveram 12 cooperativas de catadores de material reciclável no Estado do Rio de Janeiro.
A ONG é pioneira em educação ambiental inclusiva e foi vencedora do Prêmio Hugo Werneck (2017) e do Prêmio Firjan Ambiental (2020). É cocriadora da Rede Águas da Guanabara – REDAGUA e da Rede Nacional de Manguezais – RENAMAN, coordena o Subcomitê Leste da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara e participa da Rede Manguezais Litoral Norte de SP, do Movimento Viva Água – Baía de Guanabara (capitaneado pela Fundação Boticário, SEA, INEA e FIRJAN) e da Rede Nós da Guanabara (composta por pescadores artesanais, catadores de caranguejo, quilombolas e agricultores familiares que tem como principal objetivo fomentar o Turismo de Base da Guanabara).
É ainda signatária da Rede Oceano Limpo, um projeto fruto de uma parceria entre a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano (IO-USP/IEA-USP) com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e do movimento Plastic No Thanks, conectado a outras grandes coalizões internacionais para a aprovação de um acordo que objetiva reduzir a poluição de embalagens plásticas no planeta.
A instituição é a realizadora do Projeto UÇÁ, com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, iniciativa que mais retirou resíduos sólidos no recôncavo da Guanabara na última década: coletou mais de 52 toneladas de lixo de 18,2 hectares deste ecossistema com a Operação LimpaOca, restaurou 182 mil metros quadrados de florestas de mangue na APA de Guapi-Mirim e plantou mais de 64 mil mudas das três espécies de mangue. Mais informações em facebook.com/projetouca/ e no Instagram @projetouca.