A Polícia Civil infiltrou um agente durante uma reunião entre a prefeitura de Barra do Piraí, no Sul Fluminense, e uma empresa que afirmava vender doses da vacina de Oxford/AstraZeneca. Sócios da Monserrat Consultoria, localizada em Recife, foram alvos de busca e apreensão na manhã de hoje, fruto da investigação que aponta que a companhia oferecia a municípios brasileiros ‘vacinas fantasmas’ que jamais chegariam.
Foi o prefeito de Barra do Piraí, Mario Reis Esteves (Rep), quem percebeu a suposta fraude e acionou a polícia. “A Justiça deu uma autorização para que um agente participasse da reunião junto com o prefeito de Barra do Piraí. Essa reunião foi gravada, com autorização judicial, para infiltrar o agente”, explicou o delegado Thales Nogueira, titular da Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (DCC-LD), à frente da operação ‘Sine Die’, com apoio da Polícia Civil de Pernambuco e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
A dinâmica da fraude, de acordo com a polícia, acontecia da seguinte forma: a empresa Monserrat Consultoria, localizada no Recife, se colocava como intermediária da Ecosafe Solutions, companhia da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e entrava em contato com municípios de pequeno e médio porte para oferecer vacinas da Oxford. A oferta era de cada dose da vacina a 7,90 dólares (R$ 44).
A companhia argumentava que participou das pesquisas de produção da vacina e que, por isso, teria direito a meio bilhão de doses. Mas em nota, a Oxford/AstraZeneca informou que “todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado ou para governos municipais e estaduais no Brasil”.
A empresa que dizia vender vacinas pedia que as prefeituras realizassem o pagamento antecipado via ‘swift’ – um tipo de remessa bancária internacional simples -, ou em carta de crédito no momento da suposta postagem das doses em Londres, Inglaterra.Chamou a atenção dos agentes o fato da Ecosafe Solutions, além de ser recém criada, utilizar como endereço um escritório de co-working (salas onde funcionários de empresas diferentes compartilham o mesmo espaço) e, ainda, ocultar os dados de registro de seu site. Os contatos, segundo o delegado Thales Nogueira, eram feitos virtualmente, por e-mail ou Whatsapp.
A polícia aponta que os empresários ofereceram vacinas a pelo menos 20 municípios brasileiros, entre eles Barra do Piraí e Duque de Caxias, ambos no estado do Rio. Ainda não há certeza se alguma prefeitura efetuou o depósito. “Até o momento não temos informação de nenhuma prefeitura que tenha efetuado o pagamento. O prefeito de Porto Velho (RO) vai esclarecer se houve o pagamento lá”, comentou o delegado.
A ação tem como objetivo apreender telefone celular, computadores, contratos e outros documentos relacionados ao crime. Os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa e estelionato contra a administração pública.