Facção criminosa do Rio pagava salário para parentes de presos, diz Polícia Civil – Povo na Rua
         

Facção criminosa do Rio pagava salário para parentes de presos, diz Polícia Civil

Durante as investigações que desencadearam a Operação Caixinha S/A — realizada pela Delegacia Especializada em Armas, Munição e Explosivos (Desarme), ontem — os agentes descobriram que a maior facção criminosa de tráfico de drogas do Estado do Rio montou uma espécie de previdência privada para a “manutenção de pagamentos a integrantes da facção e seus familiares em caso de prisão”. Ou seja: caso um criminoso ligado ao grupo fosse preso, seus parentes não ficariam “desamparados”. Ao menos 44 pessoas de presos foram beneficiadas pelo esquema. Eles estão sendo investigados.

Um exemplo aconteceu com a mulher do traficante Marcelo Moreira Reis, o Marcelinho da CDD, que é um dos donos de uma área da Cidade de Deus, comunidade na Zona Oeste do Rio. Segundo a Desarme, a mulher do criminoso recebia por mês cerca de R$ 28 mil.

“Apenas uma esposa de um traficante, que pertence à facção, recebia R$ 7 mil por semana para bancar seu luxo de primeira-dama”, disse o delegado Gustavo Rodrigues Ribeiro, titular da Desarme.

As investigações sobre a quadrilha começaram em maio 2019, quando Elton da Conceição, conhecido como “PQD da CDD” e apontado como armeiro do tráfico, foi preso em flagrante pela Polícia Militar. Na ocasião, ele estava com armas, munição, kits de limpeza de armamentos, equipamentos militares e anotações de contabilidade da quadrilha.

A partir de dezenas de comprovantes de depósitos nominais em espécie que estavam com o criminoso, a polícia identificou uma rede de pessoas, a maioria parentes de bandidos, que era utilizada para repassar valores do tráfico aos presos da facção. Segundo a Polícia Civil, o esquema movimentou quase R$ 7 milhões ao longo dos últimos dois anos.

Os depósitos eram feitos em uma lotérica da Cidade de Deus para presos e pessoas ligadas a esses criminosos. Segundo ele, esses valores beneficiavam criminosos desde o Norte Fluminense, passando pelas regiões Serrana e dos Lagos.

“A Operação Caixinha, que se iniciou na data de hoje, é uma nova estratégia da Polícia Civil de combate a roubos de cargas, de automóveis e de transeuntes no Rio de Janeiro. Aquelas comunidades dominadas por traficantes, que incentivam o roubo nas nossas ruas, o roubo às nossas famílias, serão prioridades no combate das delegacias especializadas. E mais do que isso, vamos ampliar a nossa atuação agora para dentro dos presídios, responsabilizando os principais líderes dessa facção, que se encontram presos e que precisam desse dinheiro para sustentar suas famílias. Então, se a família do cidadão comum não tem tranquilidade e paz para andar na rua, as famílias dos líderes também não podem ter paz para usar o dinheiro proveniente do crime”, disse o delegado Alan Turnowski, secretário de Estado de Polícia Civil.