Diana Pires
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro está investigando o caso do agente administrativo Carlos Alberto Carvalho, que afirma ter testado positivo para Covid-19 duas vezes em um intervalo de quatro meses — em maio e em setembro. Se confirmado, este será o primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus no Rio de Janeiro.
Carlos Alberto tem 60 anos e mora em Mesquita, na Baixada Fluminense. Segundo ele, na primeira vez que contraiu o coronavírus, em maio, ele foi assintomático. Já na segunda vez, em setembro, ele precisou ser internado em estado grave no Centro de Terapia Intensiva (CTI). “Eu fiquei muito mal nessa segunda vez. Foram 13 dias no CTI. Graças a Deus estou curado e meu caso está sendo estudado”, contou Carlos. Apesar de rara, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já disse a reinfecção é possível.
A advogada Cristiane Carvalho, filha de Carlos, disse que, em maio, sua mãe testou positivo após apresentar febre, dores e pressão alta. Com o diagnóstico da mãe, outros membros da família foram testados. Segundo ela, o resultado foi positivo para seu irmão e seu pai.
O pai, no entanto, não apresentou sintomas.
Ainda segundo Cristiane, em 14 de setembro, Carlos Alberto teve sintomas de resfriado, com diarreia e febre. No dia 17, foi levado à emergência do Hospital Pronil, em Nilópolis, com pressão alta, mas foi liberado no mesmo dia. No dia 23 de setembro, ele apresentou piora no quadro de saúde, sentindo muito cansaço e falta de ar. Ao voltar à unidade de saúde, foi constatado por meio de uma tomografia que ele estava com 75% do pulmão comprometido. Foi então que fizeram um novo teste PCR, que deu positivo para o coronavírus. Carlos Alberto ficou duas semanas no CTI até se recuperar.
Os dois testes feitos em maio e em setembro foram do tipo PCR, mas realizados em locais diferentes, segundo Carlos Alberto.
O primeiro foi no Centro Biomédico Terra Pereira, em Nova Iguaçu. O segundo, no Hospital Pronil, em Nilópolis. “Meu pai ficou em estado muito grave, foram 13 dias internado no CTI e três no quarto. Foram muitos dias de choro, agonia, orações. O que a gente não esperava era que ele fosse infectado duas vezes com a Covid-19. Os médicos falaram com a gente que amostras de sangue do meu pai foram enviadas para estudo de caso de reinfecção”, disse Cristiane.
A Secretaria de Estado de Saúde informou que foi notificada, na última quarta-feira (21), pela Vigilância Epidemiológica Municipal de Nilópolis sobre o possível caso de reinfecção por Covid-19 na cidade. A SES disse ainda que prestou orientações à coordenação municipal de Vigilância e que aguarda informações do caso para encaminhamento ao Ministério da Saúde.
Mauro Terra, biomédico e responsável-técnico do Centro Biomédico Terra Pereira, confirmou que o exame feito em maio detectou o vírus no paciente. Segundo o especialista, o intervalo entre os exames de Carlos Alberto que testaram positivo (diferença de quatro meses) está acima do que eles consideram ser apenas “fragmento viral”. Ou seja, se o exame fosse refeito em 30, 40 ou até 60 dias poderia dar positivo porque a doença ainda poderia estar incubada.
Entretanto, o médico ressalta que só é possível diagnosticar a reinfecção após uma série de estudos. No Brasil, um estudo da USP que apontou evidências de reinfecção pelo novo coronavírus em uma técnica de enfermagem de Ribeirão Preto (SP) foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical em setembro. “A Covid é muito nova, toda hora estamos encontrando coisas novas. Cinco meses atrás, eu diria que não existia reinfecção. Hoje, pelo que estamos observando e pelo que tem sido pesquisado, entendo que a reinfecção é possível (…)Mas é preciso fazer uma série de análises.
Por exemplo, estudar em que quadro clínico o paciente se apresentou nas duas vezes, tudo isso ajuda a construir a investigação”, explicou Mauro Terra. O Hospital Pronil, por meio de uma atendente da ouvidoria, disse que não fornece para a imprensa informações sobres casos e pacientes da unidade de saúde.
Um outro caso suspeito de reinfecção no RJ, ainda em análise, é de uma mulher de 39 anos, moradora de Volta Redonda. Ela teria se infectado em maio e agosto. A SES e o Ministério da Saúde ainda estão investigando o caso.