Diana Pires
A Zona Oeste do Rio e a Baixada Fluminense são as regiões que concentram o maio número de desaparecimentos de pessoas no Rio de Janeiro. É o que aponta um levantamento que revela ainda que os conflitos familiares são o principal motivo dos casos.
Só nos oito primeiros meses de 2020, mais de 2 mil famílias passaram a conviver com a angústia de ter algum ente desaparecido. A família de Dona Vânia está entre essas.
Já faz um ano que Vânia só vê o filho mais velho pelas fotos. Em setembro do ano passado, ela recebeu uma ligação da nora dizendo que Douglas tinha sumido.
“Ela falou ‘ele saiu ontem e não voltou’. Eu falei ‘como? eu falei com ele…’, e ela falou ‘ele não voltou até agora’”, lembra Vânia, que chora ao falar do desaparecimento do primogênito.
O carro de Douglas foi encontrado dias depois, no Chapadão, na Zona Norte da capital fluminense. Ao lado do carro, havia um corpo, mas não era o dele.
“Tinha um corpo de um rapaz em cima do colchão, do lado do carro, não sei de quem é até hoje”, contou Vânia.
O caso do Douglas foi registrado como desaparecimento sem motivo aparente. Um levantamento feito pelo Ministério Público mostrou que os principais motivos dos desaparecimentos registrados nos últimos cinco anos no estado do Rio foram:
conflito familiar (42%)
problemas psiquiátricos (17%)
homicídio e sequestro (10%)
Dos cinco bairros com maior incidência de casos de desaparecimento na capital, quatro estão na Zona Oeste: Campo Grande, Santa Cruz, Bangu e Taquara. Os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), mostram que, depois da Zona Oeste do Rio, a segunda área do estado que concentra o maior número de desaparecimentos é a Baixada Fluminense.
De janeiro a agosto deste ano foram registrados 2.133 casos em todo estado. Na Zona Oeste da capital foram 558, enquanto na Baixada, 533. A dificuldade de ter uma resposta pode ser ainda maior dependendo de onde o caso aconteceu. Quem vive em comunidades, por exemplo, conta que tem que lidar com o medo e com o preconceito na hora de fazer o registro. São famílias que veem as vítimas, muitas vezes, serem transformadas em suspeitos.
É o caso de uma mãe, que não quis se identificar, cujo filho de 17 anos desapareceu há dois meses. Ela mora em uma comunidade da Baixada Fluminense e conta que uma das primeiras perguntas que ela ouviu na delegacia foi se o filho era criminoso. Ele não tinha nenhuma passagem pela polícia.
“O estado acha que todo mundo que mora numa comunidade é criminal, coisas ruins. E não é. Se a gente mora na comunidade, o estado tem que entender que é porque a gente precisa. Senão, a gente optaria por morar na Zona Sul”, criticou a mulher.
Segundo o pesquisador Fransérgio Goulart, casos assim não são isolados. Por causa do preconceito e, muitas vezes, sem receber ajuda, a família acaba vivendo todos os papeis na investigação. “Inicialmente ela é vítima dessa violência, depois ela é criminalizada no processo quando ela busca o próprio estado na delegacia.
E depois, além desses dois sofrimentos, ela tem que buscar a investigação, e ela é a própria investigação”, apontou o pesquisador. Depois de duas semanas de muita procura, ela encontrou o filho morto, mas até hoje continua sem saber o que aconteceu.