Diana Pires
O esquema de extorsão descoberto pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) na Operação Brutus, realizada ontem, revelou que um shopping chega a pagar R$ 15 mil por semana para a quadrilha que age em Madureira. O bando é formado por milicianos, traficantes, guardas municipais, um PM e funcionários públicos da Prefeitura do Rio.
De acordo com o delegado Maurício Demétrio, titular da DRCPIM, o grupo começou a agir ameaçando, coagindo e extorquindo os ambulantes do bairro da Zona Norte do Rio, que pagam de R$ 100 a R$ 250 por semana, dependendo do que vende e do tamanho da barra que usam. O esquema foi se sofisticado até atingir os grandes empresários.
“Eles foram numa crescente. Começaram extorquindo os ambulantes, daí, se sofisticaram e não pediam mais o dinheiro de ponta a ponta do lucro do comerciante, impondo um tipo determinado de barraca… quando eles se juntaram com o tráfico, partiram também para o comércio ilegal. Ai começaram a extorquir shoppings, supermercados, fábricas, estacionamentos”, enumera o delegado.
Na ação de ontem, os policiais prenderam duas pessoas, uma em flagrante por porte de munição e outra com mandado de prisão em aberto. Além disso, foram apreendidas 12 toneladas de produtos piratas, armas, fardas camufladas e munições.
A ação da quadrilha vem favorecendo o aumento da desordem urbana em uma das principais áreas comerciais da cidade. Os funcionários públicos envolvidos no esquema fazem “vista grossa” para coibir as irregularidades. “Madureira foi um caso complexo, porque a gente pode ver bem a junção de milícia, tráfico e funcionários públicos corruptos da banda podre, que estão, na verdade, ao invés de fazer o controle urbano, se unindo a milicianos para extorquir os ambulantes e os comerciantes da região”, destaca Demétrio.
Dentre os alvos da investigação estão funcionários da Secretaria Municipal de Fazenda, responsáveis pela fiscalização da atuação comercial no bairro. A agente de inspeção de controle urbano Aline de Araújo chegou a ser levada para a sede de DRCPIM, na Cidade da Polícia, para prestar esclarecimentos. Ela é suspeita de receber dinheiro para não punir os crimes praticados pelo bando. “A gente filmou de quatro a seis meses a região e pode constatar trocadores de rupas no asfalto. Eles já estavam instalando banheiros químicos. É um total descontrole urbano, na verdade”, assinala o delegado.
A quadrilha que age no comércio de Madureira também é investigada por pelo menos nove homicídios, praticados nos últimos dois anos. As vítimas seriam pessoas que não pagaram propina exigida ou por briga de facções rivais. “Tem o caso de um que foi morto porque botou um engradado de cerveja e não pagou cinco reais”, destaca Demétrio.
Outra vítima fatal do bando foi um comerciante, identificado como Jeferson Marcelo, que tinha infláveis para crianças, chamados de pula-pula, na Praça do Patriarca. “Os milicianos quiseram tomar o inflável dele, ele denunciou e 12 dias depois foi assassinado”, conta o delegado. Os alvos da operação são investigados pelos crimes de formação de quadrilha, organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.