A campanha de Alexandre Ramagem à Prefeitura do Rio de Janeiro já remunerou com R$ 139,7 mil (em recursos do Fundo Partidário) uma lista de 28 pessoas que constavam na controversa “folha secreta” de pagamentos do Ceperj. O órgão esteve no centro do escândalo que, em 2022, colocou Cláudio Castro, correligionário de Ramagem no PL, na mira de duas ações de cassação.
De acordo com a prestação de contas de Ramagem à Justiça Eleitoral, na versão atualizada no último dia 26, o pagamento mais alto repassado pela campanha a um desses antigos nomes do Ceperj foi de R$ 13,3 mil. Já o mais baixo, de R$ 2,4 mil. A equipe dele afirma que não há irregularidades nas contratações, observadas as normas do TSE (leia abaixo o posicionamento na íntegra).
Para procuradores que analisaram a eleição de Castro, de dois anos para cá, as contratações do Ceperj (o Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio) teriam sido utilizadas de maneira abusiva, política e economicamente, pelo governador em sua reeleição. O esquema, diz o MP Eleitoral, envolveu indícios de funcionários fantasmas e de fraudes financeiras.
Ao todo, cerca de 27 mil cargos foram preenchidos no Ceperj, a maior parte sem a devida transparência à época. A suspeita é que, nos meses que antecederam o pleito que reelegeu Castro, dinheiro público em cifra bilionária teria remunerado pessoas ligadas ao governador e seu grupo político, em troca de apoio. Todos negam as acusações, e há ações em aberto até hoje no TSE e no TCE do Rio. Na Justiça Eleitoral do Rio, Castro e aliados foram absolvidos das ações de cassação.
Agora, 28 desses nomes que encorpavam lá atrás a folha do Ceperj reaparecem na prestação de contas de Ramagem. Todos são listados como “despesa de pessoal”, rubrica dedicada às equipes por trás das candidaturas — de assessores a cabos eleitorais, entre outros.
Ao todo, a candidatura de Ramagem já contratou cerca de 2 mil pessoas para atuarem a favor dele desde agosto. Nos bastidores, a avaliação do entorno do ex-chefe da Abin é de que os nomes que constavam na lista do Ceperj representam uma parcela diminuta do total de funcionários da campanha, bem como da antiga folha do órgão do governo do estado.
Questionada, a campanha de Ramagem diz que “todas as contratações seguem as regras estabelecidas pelo TSE” e destaca que, para a Corte, “os impedimentos às vagas são de candidatos que recebem benefícios sociais ou estão condenados e em cumprimento de medidas restritivas”. Um pente-fino sobre essas vedações do TSE foi feito pelo time do candidato.
Por fim, a equipe de Ramagem “esclarece que todos os candidatos trabalham dentro do estabelecido pela legislação em vigor e nenhum atua no serviço público”.
A campanha de Ramagem já recebeu R$ 26 milhões do PL, via Fundo Partidário, enquanto pessoas físicas que resolveram doar somaram R$ 50 mil em contribuições. As despesas totalizam R$ 16 milhões, dos quais R$ 4 milhões (equivalentes a 18,0%) foram gastos em contratações de pessoal.