Mais que o pão de cada dia – Povo na Rua
         

Mais que o pão de cada dia

Gustavo Geladeira no treino do Boavista

A vida de luxo bancada pelos altos salários de grande parte dos jogadores da Série A do Campeonato Brasileiro deixa uma impressão errada para aqueles que não seguem de perto o mundo do futebol. Longe da luz dos holofotes estão a maioria dos atletas do futebol brasileiro, com salários não tão altos e que vivem a rotina de contratos de seis meses e atrasos de pagamentos. Para esses jogadores, o direito de arena, questão que pode ser alterada pela MP 984, é uma garantia em um mundo de incertezas.

Na nossa coluna do fim de semana mostramos a luta do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj), por meio do presidente Alfredo Sampaio, para manter o trâmite atual do pagamento dos direitos de arena, regulado pela Lei Pelé. A regulamentação determina que 5% do valor proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais deve ser repassado a todos os jogadores que participaram da partida, mesmo aqueles que ficaram no banco de reservas.

A Lei Pelé fez com que desde 1999 sindicatos de jogadores passassem a ser os responsáveis por esse repasse aos jogadores e assim foi até o anúncio da MP 984, que transfere aos clubes mandantes da partida essa responsabilidade. O movimento gerou nos jogadores incertezas quanto à confiança no cálculo e no pagamento das verbas, já que são muitos os exemplos de inadimplência por parte dos clubes brasileiros.

Esse cenário pode não significar tanto para jogadores que ganham salários na casa dos três dígitos, mas na certa é motivo de muita preocupação para aqueles que ganham a vida trabalhando em times de menor investimento.
Entre eles está Gustavo Conceição, mais conhecido como Gustavo “Geladeira”, zagueiro de 34 anos que atualmente tem contrato com o Boavista, time de Bacaxá, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro.

Gustavo conta a importância do direito de arena em seu dia a dia. “É com esse dinheiro que conseguimos ter uma garantia, uma tranquilidade no segundo semestre. Sempre recebi certinho. Acabava o campeonato a gente tinha a segurança de que tinha o dinheiro para receber para poder honrar com compromissos que não são poucos. As contas do dia a dia não param. Com a medida vai trazer muita insegurança. Particularmente estou muito preocupado”, conta.

Como o Boavista não conseguiu classificação para a Série D do Campeonato Brasileiro e a Copa Rio foi suspensa pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) Gustavo inicialmente não disputará mais nenhuma competição nesse ano e torce para que a MP não mexa em um dinheiro que ele nunca teve problema em receber.
Acabava o campeonato eu viajava para a minha cidade e ligava para o sindicato dos atletas (Saferj), eles mandavam um documento, eu assinava e eles depositavam o meu dinheiro”. “A gente está na esperança que não mexam em um direito nosso”.